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A Dança Sutil do Autoabandono: Uma Análise Psicanalítica das Relações Tóxicas — Em 4 Episódios (Episódio I)

 

1. O Mito da Gentileza Pura



O autoabandono, essa sutil e traiçoeira forma de autonegação, raramente se apresenta com ares de perigo. Pelo contrário, ele se veste com as roupagens mais admiráveis: a gentileza, a flexibilidade, a compreensão e o espírito de sacrifício.

Desde cedo, somos ensinados a valorizar essas qualidades, a crer que a harmonia externa é o maior bem, mesmo que isso signifique sufocar nossa própria voz interior. A pessoa que se autoabandona não age por malícia ou por fraqueza, mas sim impulsionada por uma profunda e, muitas vezes, inconsciente necessidade de ser aceita, de manter a paz e de evitar o conflito a qualquer custo.

Na fase inicial de um relacionamento, essa predisposição para o autoabandono pode ser tragicamente mascarada pela idealização do amor. As “juras de amor” são ditas e recebidas com fervor, criando um cenário de segurança e pertencimento. A atenção, a aparente cumplicidade e as promessas de um futuro feliz tecem uma teia envolvente.

A pessoa que se autoabandona, seduzida por essa promessa de conexão profunda e pela aparente correspondência dos seus anseios de paz, não percebe que está entrando em uma dinâmica onde sua própria identidade será gradualmente erodida.

O que parece ser a base para um amor incondicional é, na verdade, o terreno fértil para uma entrega excessiva e, mais tarde, para uma dolorosa autonegação. Ela se entrega de corpo e alma, acreditando que essa é a forma de sustentar o amor que lhe é prometido, sem notar as pequenas renúncias que, somadas, formarão um abismo.

2. O Falso Self e Suas Origens (Viés Psicanalítico)



Sob uma perspectiva psicanalítica, o autoabandono pode ser profundamente compreendido através do conceito de “Falso Self”, introduzido pelo psicanalista britânico D.W. Winnicott.

O Falso Self é uma estrutura psíquica que se desenvolve na infância como uma forma de proteção. Quando o ambiente primário da criança (geralmente os pais ou cuidadores) não é suficientemente bom — ou seja, não consegue espelhar e atender às necessidades genuínas e espontâneas do bebê –, a criança aprende a se adaptar excessivamente às expectativas externas.

Ela cria uma espécie de “máscara” ou fachada de conformidade para ser aceita e amada, escondendo o seu “Verdadeiro Self”, que representa seus impulsos, desejos e necessidades autênticas.

A pessoa que se autoabandona, na vida adulta, continua a operar predominantemente a partir desse Falso Self, negando sua singularidade e priorizando a aprovação e a manutenção do vínculo a qualquer custo, mesmo que isso signifique sacrificar sua própria essência. O objetivo inconsciente é a sobrevivência relacional.

Essa construção do Falso Self é sustentada por potentes mecanismos de defesa. O recalque age mantendo fora da consciência desejos, raivas ou necessidades consideradas “inaceitáveis” ou “perigosas” para a manutenção do afeto do outro. Por exemplo, a raiva por ter um desejo negado pode ser inconscientemente suprimida.

Complementarmente, a formação reativa atua ao fazer com que a pessoa manifeste o oposto de um impulso inconsciente. A “gentileza excessiva”, o “sacrifício abnegado” e a “flexibilidade inesgotável” podem ser formações reativas contra impulsos mais assertivos, egoístas ou até agressivos, que ameaçariam a “paz” e a percepção de si como alguém “bom” e “amável”.

Na base de tudo isso, reside frequentemente uma profunda ansiedade de separação e um medo inconsciente de abandono. Esses medos são resquícios de experiências arcaicas da infância, onde a não-conformidade ou a expressão de individualidade poderiam ter sido percebidas como uma ameaça à segurança e ao amor dos cuidadores.

Assim, a submissão e a autonegação na vida adulta tornam-se uma estratégia inconsciente para garantir que o outro não a deixe, repetindo um padrão primitivo de apego e dependência.