1. O Mito da Gentileza Pura
Desde cedo, somos ensinados a valorizar essas qualidades, a crer que a harmonia externa é o maior bem, mesmo que isso signifique sufocar nossa própria voz interior. A pessoa que se autoabandona não age por malícia ou por fraqueza, mas sim impulsionada por uma profunda e, muitas vezes, inconsciente necessidade de ser aceita, de manter a paz e de evitar o conflito a qualquer custo.
Na fase inicial de um relacionamento, essa predisposição para o autoabandono pode ser tragicamente mascarada pela idealização do amor. As “juras de amor” são ditas e recebidas com fervor, criando um cenário de segurança e pertencimento. A atenção, a aparente cumplicidade e as promessas de um futuro feliz tecem uma teia envolvente.
A pessoa que se autoabandona, seduzida por essa promessa de conexão profunda e pela aparente correspondência dos seus anseios de paz, não percebe que está entrando em uma dinâmica onde sua própria identidade será gradualmente erodida.
O que parece ser a base para um amor incondicional é, na verdade, o terreno fértil para uma entrega excessiva e, mais tarde, para uma dolorosa autonegação. Ela se entrega de corpo e alma, acreditando que essa é a forma de sustentar o amor que lhe é prometido, sem notar as pequenas renúncias que, somadas, formarão um abismo.
2. O Falso Self e Suas Origens (Viés Psicanalítico)
Sob uma perspectiva psicanalítica, o autoabandono pode ser profundamente compreendido através do conceito de “Falso Self”, introduzido pelo psicanalista britânico D.W. Winnicott.